[ROUTE] - Meeting!

A estranheza com que Lysander simplesmente não dera opinião me assustava. Olhei mais uma vez ao rapaz esperando uma segunda devolutiva e nada; sua cabeça apoiada na mesa também se tornava suspeito. Dessa vez, decidi manter por mais tempo meu olhar ao rapaz:
- Ei, espera um pouco Ayzen... já vou - E ao dizer isso, toquei o garoto de sobretudo. Nenhuma reação! Meu medo tomara conta do meu alcool e, por um instante, fiquei sóbria. Sobriamente preocupada - Me ajuda a ver se ele ta respirando, pelo amor de deus! - E botei uma segunda mão em seu pescoço, procurando a pulsação. Com ela encontrada, suspirei aliviada; ele estava bem. Um ronco fora o aval necessário e, ao ouvi-lo gargalhei animada, voltando à mim - Ah ok, ele está só dormindo. Acho que a cerveja e seu Sing fizeram isso com ele - E cocei a cabeça - É, vamos lá!

Levantei e deixei o garoto lá; ele não demoraria acordar e não estava com seus pertences todos. Deixara tudo no quarto! Não parecia em perigo. Além disso, só iríamos atravessa a rua rapidamente e já voltaríamos. Não seria perigoso deixá-lo ali por alguns minutos, não é?! Se estivesse comigo, claramente pediria para Loki ser meu Guarda-Costas, mas como não estava, aceitei que um "vou ali e já volto" não seria nada demais.

Meu levantar fora abrupto; o que até abaixara minha pressão um pouco. Com ela recuperada, posicionei-me atrás do não-tão-alto, coloquei uma
mão em cada ombro (respectivamente falando) e empurrei-o em direção à lanchonete, como num "trenzinho" infanto-juvenil. Por quê?! Não faço ideia. O importante é que eu o fiz; sendo invasivo ou não. Ora ou outra até sentia vontade de emitir alguma música ou trecho auto-poético mas simplesmente não o fiz. Ainda não estava bêbada o suficiente para isso.

Importante dizer que, por medidas de segurança, optei levar a garrafa de Lysander comigo. Talvez se o garoto bebesse mais, podia ser que ele piorasse; sendo assim, eu faria o papel de boa moça e beberia por ele. Ayzen que lute.

Ao aproximarmos, senti que Ayzen tinha certa razão no dito; talvez por um preconceito meu aos Galarianos, mas aquela cidade cheirava a caos! Arremessei minha última garrafa de cerveja vazia no lixo próximo do homem que falava besteiras, deixando um pouco óbvia minha aparição; ainda assim, sem revelar-me como alguém que lhes investiga. Decidi olhar ao rapaz seriamente e, num patrocínio de atuação bastante fraca, aproximei-me o suficiente de Ayzen para fingir-ser-o-que-não-éramos. Peguei-o pelas duas mãos e olhei-o nos olhos; a necessidade disso?! Provável que nenhuma, mas eu estava bêbada e contato físico me parecia uma boa ideia.
- Ei, meu bem, pega uma mesa pra nós dois, vou ali dentro comprar algo pra gente, pode ser?!

Fora assim que me despedi a princípio; entraria no estabelecimento, compraria um doce qualquer, engoliria-o como se fosse minha única refeição diária e, ao fim disso, sairia pela segunda porta (se houvesse, é claro). Dali tentaria circular o estabelecimento e cercar o homem por trás. Eu disse algo disso à Ayzen?! Claro que não. Eu senti que não precisava; estava certa de que, ao deixá-lo sozinho com seu instinto, ele agiria por si só. Esperava fielmente que meu tempo de comprar um doce e dar a volta na lanchonete fossem suficientes para pegá-lo desprevenido pelo outro lado.

O cercaria?! Não sei. Certamente tentaria; minha primeira ação seria liberar Ursaring para o parar. Isso é claro, se eles estivesse comigo; por um instante a Winnie bêbada esqueceu que deixou Loki no laboratório. Trocou as esferas e fora com um mísero Tynamo "sem experiência" cercar um possível ladrão enigmático.

É, talvez eu devesse ter avisado Ayzen do plano. Minha ideia se tornara tão secreta e sigilosa que nem mesmo ele sabia; corri até a moça do balcão, comprei um Donuts um tanto menor, paguei, dei uma bela mordida e fui. Tão despreocupada quanto uma criança num supermercado, prestes a se perder. Felizmente eu já tinha duas décadas... né?! Ao menos, acredito que isso fosse um ponto positivo em minha maturidade e noção. Era para ser! Circulei o estabelecimento e, já nem mais lembrando o porque do ato, passei pelo beco lateral.

Fora ai que retomei a mim; o álcool mais uma vez fora embora e, no lugar dele, um enorme arrependimento tomou meu corpo. Pernas bambas, rosto empalidecido e coração acelerado-até-demais. cento e cinquenta bpm deixara de ser um estilo de música para tornar-se um sintoma inevitável meu. Já com a boca seca, soltei a única esfera que podia me salvar: a esfera bicolor de Loki.

Mas que surpresa foi descobrir que, comigo, estava na verdade um Tynamo tão perdido quanto eu. Olhei o pokemon que surgira e, num rebote tão desentendido quanto, ele me olhou. Ficamos um tempo estáticos, encarando a cena ridícula que se sucedera e, ao entender que eu provavelmente não teria salvação, berrei:
- AYZEN, ME AJUDA - E supliquei em alto e bom som pela ajuda do garoto que acabara de conhecer.

Meu donuts caíra no chão no exato momento que comecei o berro. Aqui tive que interromper os livres pulmões; há muita tristeza envolvida em derrubar meu lindo doce inglês.

Soltei o ar preso. Não era lá tanto; meu pulmão não é tão grande e poderoso assim. Apesar disso, a parte de ar que havia sequestrado para mim estava por muitos instantes comigo. Eu simplesmente não conseguia soltá-la em alívio; não existia alívio em mim. Fora só quando vi Ayzen que dei permissão à mim. Fora só quando vi Ayzen que meus olhos burlaram todas as minhas censuras, e soltaram também a água que prendiam. Fora só ao ver Ayzen que.... eu parei de ver?! Minha visão embaçada, bastante prejudicada pela lágrima, parecia querer me dar um golpe.

Fora por pena que o garoto se juntou a mim?! Provável que sim. Tynamo era outra que simplesmente não tinha reação; vendo a valentia do homem, colocou-se atrás de seus braços e esperou que o bravo rapaz nos salvassem. Mas pera ai; desde quando eu espero isso?! Olhei a pokemon bastante desorientada e aceitei: aquela batalha não era seu destino. Solidarizei-me com seu desespero inexistente, mas que muito provavelmente viria à existir. Não a colocaria no mesmo problema que me coloquei; ela simplesmente não pedira por isso.

Fora só ao decidir isso que comecei a soluçar. Aquele podia ser um sintoma do mais ridículo choro; mas para mim, era só simbólico. O ar saia de uma forma ou de outra. Voltei a respirar e, quando dei por mim, minhas mãos já estavam nos olhos, tentando amenizar o efeito da cara amassada e vermelha. Da onde surgiu aquilo?! Certamente não era apenas medo.

Tem mais coisa me incomodando ai. Tem muito mais coisa. Não é de hoje que você perde a linha da reação, Winnie. Não é de hoje que de falta postura mas... por quê? Bem, agora não é hora de descobri. Eu sabia que não.
- Me desculpa, me desculpa, eu errei o caminho, eu fiz merda... ah, eu não sei como isso aconteceu - E respondi, tentando acertar na sanidade mas errando de muito - Eu não consigo entender o que eles falam... eu entendo uma palavra ou outra, Mafia mesmo ficou bem claro, mas eles falam rápido demais - E retornei as duas mãos, tirando-as do rosto e trazendo para perto do corpo, num "cruzar de braços" característico de irritação.

Não era o imenso Gyarados de Ayzen (que inclusive, tomara o beco todo para si) que iria resolver o problema sozinho. Peguei uma segunda esfera: agora um pouco mais certa do que estava fazendo, já que só me restara uma Pokebola (propriamente dita; Chingling é morador d'uma Friend Ball). Liberei Hela e, com o amarelo colorido o campo, ordenei sem muito pudor:
- Thunder Wave e Thunderbolt na Barracuda - E me limitei a isso - Tynamo, não precisa voltar à esfera, mas fique por perto.
Aos poucos, eu voltava ao estado que deveria estar. Estado que me falhou em Forina, no Pyre, em Mu e, agora, em Galar. Apesar do retorno, eu sabia que não ia durar tanto tempo assim.

E eu parecia estar indo tão bem....