[ROUTE] - Meeting!

- Precisamos mesmo - Assenti com a cabeça e chamei as meninas. Fiz sinal à Margareth e pedi que trouxesse Bella e as outras meninas consigo. Apontei até o fundo do corredor e sinalizei para que Ayzen as ajudasse a levantar e caminhas - Ta quase acabando meninas, vamos lá.

Agora a tal Hlín ia para trás, tentando auxiliar com sua habilidade gravitacional algum tipo de caminha mais fácil para as meninas assustadas. Tynamos e Hela seguiam comigo e caminhávamos para a saída. Estava certa de que Ayzen já havia chamado a polícia, principalmente pelo jeito confiante com que falava e nos apressava. Pensando nisso, não me preocupei em fazer eu mesma; deixei que ela apenas chegasse e me ajudasse.

Agora eu tinha Electabuzz comigo; isso fazia com que eu me sentisse no mínimo 300x mais segura. Além disso, Hlín não era mais um bebê; Chimecho já é uma pokemon bastante crescida e poderosa.

E num "time skip" maravilhoso, aquilo tudo acabou. Eu não vou narrar para vocês nem como nem porque, eu vou narrar apenas o meu ombro caindo ao chão e o peso que tirei das minhas costas. Ao fim, recompensa nenhuma seria melhor que o simples "me livrar". Ao enfim cair a ficha, pulei animada e corri em direção à Ayzen, erguendo a mão num "hi-5" típico e bobo. Claro, isso fora antes de abraçá-lo e gritar:
- CONSEGUIMOS! - Nesse ponto, eu já havia até esquecido que não dormi - NÓS CONSEGUIMOS, PORRA! - Xinguei e, dando graças a deus por estar em outro país, não me poli em nada. Provável que os policiais não soubessem o que falei.

Em falar em policiais... eles me fizeram engolir minha língua. Eu podia ter dito que recompensa nenhuma seria equivalente mas.... mas ah, eu me enganei. Com dinheiro em mãos e um par de botas-pokemons eu simplesmente arrepiei. Era um arrepio surpresa, daqueles que vem quando um toque inesperado vem até seu antebraço e lhe reduz à um susto. Pois é, tomei esse susto e agradeci um pouco confusa; ao irem embora, olhei para o garoto loiro e gritei mais uma vez, me certificando que não havia mais ninguém em volta para ouvir:
- ESTAMOS RICOS, PORRA - E folheei as notas - ISSO AQUI É DINHEIRO DE EUROPEU, ISSO AQUI VALE MUITO, MEU DEUS EU VIM VIAJAR E AINDA GANHEI DINHEIRO - Meus gritos eufóricos faziam até parecer que o álcool tinha voltado, mas era apenas adrenalina e êxtase por estar viva e rica - Meu deus com isso da pra comprar uma fazendinha, um trocinho legal pros meus pokemons, pagar uma massagem pra mim e pra eles. Meu deus, eu to rica, Ayzen, eu to RICA - E repeti, mas logo depois reconsiderei - Nós estamos ricos. Vem, vem, eu não to com um pingo de sono mas quero ir para o hotel tomar um banho, vem comigo - E eu já não tava nem ai se ele queria vir comigo ou não.

Fora este o ponto; porque eu queria que Ayzen viesse comigo?! Ah, é meio óbvio na verdade. Eu queria conversar com ele sobre coisas que treinadores fazem. Eu queria ter de fato uma conversa digna e, por isso, o meio da rua não era um lugar adequado. Eu tinha quase certeza que Ayzen aceitaria a proposta; não por interesses secundários, mas ele parecia gentil demais para deixar uma mulher recém-sequestrada sair por ai sozinha com dinheiro e muito potencial para se meter em problemas de novo. Sabe-se lá quem a gente afetou com essa história de mafia, não é?!

O questionamento de Ayzen me fizera apenas rir. Eu não tinha o que responder para ele, até porque, eu havia acabado de ser sequestrada pra filmar um Tik Tok. Se tem algo que eu definitivamente não estava pensando, era o quanto um homem no meu quarto podia ser esquisito à recepção. Apesar de saber o quão estranho seria, eu não estava ligando para aquilo.

Não hoje. Não agora. Peguei-o pela mão, levei-o até a calçada e entrei no primeiro Táxi que vi. Num sotaque bastante esquisito, pedi para que o motorista me deixasse no Hotel de nome bastante comum. Não era difícil saber do que se tratava e muito menos como chegar; apesar de longe, era uma estrada bastante simples.

Passaríamos cerca de quinze minutos naquele carro. Talvez menos, talvez mais; não sei ao certo o trânsito (e muito menos que horas são) de Galar e não havia muito como estimar a distância, mas fato era que não passaria aqueles tantos minutos em silêncio, então introduzi uma pergunta boba:
- Meu deus, é muito bom sentir que eu cumprir uma missão assim. Fazia muito tempo que eu não me sentia assim, sério! - E respirei fundo, soltando um suspiro longo que abafava meu orgulho-próprio. Eu estava extremamente satisfeita com minha performace, mas não queria falar (diretamente) disso - Sabe, essa ideia de que eu fiz algo de útil. Meu deus, eles foram todos presos, foram uns sete ou outro. E todas as meninas tão bem e indo para casa, sabe?! Isso é muito bom.

Fora ai que lembrei da última missão que fiz. A lembrança até me fez perder parte da animação por um mísero instante, mas logo ela voltou. A cena em questão era minha discussão com Margo, naquela chuva absurda que ocorreu nas redondezas do Monte Pyre. O fato em si eu não lembrava muito bem, mas a raiva, a tristeza e a decepção ao descobrir o caos humano por trás daquilo me revira o estômago:
- Só é zuado quando não da certo né... - E comentei por alto, jogando no ar, já sem o mesmo ânimo que antes, mas como narrado a priori, retomando-o logo em seguida - última vez eu tive que salvar meu irmão... deu certo mas foi horrível. Sabe aquela chuva no Monte Pyre lá?! Então, ali não rolou nada de bom e de quebra descobri que todo mundo esconde coisa de mim.

E o ânimo sumiu de novo; num vai-e-volta constante, as lembranças enchiam minha cabeça e aos poucos minha fala perdia um pouco de brilho... junto de meus olhos, é claro. Virei-me para Ayzen e olhei-o nos olhos, um pouco aliviada dele estar comigo hoje.
- É um saco passar por essas coisas sozinhas - E desabafei - Acho que foi menos traumático te ter por perto. Obrigada... de novo.

- Assim, saber saber eu não sabia - Já cheguei em resposta, com preguiça de narrar um introdução desnecessária para uma comunicação dialética. Pois bem, se acostumem, meus postes até os hotéis serão mais.. diretos?! É isso. Não que isso os tornem ruins (alguns até dirão que ficarão melhor), mas certamente mais curto-e-direto - Mas eu imaginava que civil você não era... até sua decisão em ir atrás daqueles caras deixou isso meio óbvio. Eu tenho um irmão que virou Ranger e não faço ideia a quanto tempo, mas quando encontrei ele no Monte Pyre, ele tava completamente fudido - E coloquei a mão na boca - Meu deus, desculpa a expressão... mas é que ele tava bem mal mesmo. Eu vi que vocês passam por um aperto da porra.

Fora ai que me toquei; Vicent nem era um treinador tão forte assim. Nunca nem tentou ser! Mesmo anos depois de sair de casa, ele nunca me ganhou, não era seu intuito. Não participa de evento de treinadores nem nada disso; podemos dizer que talvez esse seja o ônus e o bônus de sua carreira Ranger. Ele não queria ser um treinador exemplar então encontrou nos Rangers um lar e, ao mesmo tempo, nunca seria uma patente lá tão alta dentro do esquadrão, até porque, ele não era forte:

- Eu posso ta falando merda, mas eu tenho uma impressão que essas associações recrutam treinadores inexperientes e os colocam no campo com situação bem absurdas - E fora ai que levei as mãos na cabeça, coçando o queixo - Tu é bem forte, mas com certeza passou por muita coisa quando não era, né?! Tipo, eu sei que aqui a gente não tava preparado, mas se estivéssemos, esses caras nem chegariam perto da gente. Eles são patéticos, sabe? Além de burros, porque nem sequer levaram minha bolsa. Se eu estivesse com Ursaring ou algum outro pokemon maior, eu seria pior. Mas eu fico pensando, e para quem não é treinador? Parece que eles não dão muita base pra essa galera, eu fico indignada - Porque eu tava falando isso? Por pura raiva quanto ao caso de Vicent - Meu irmão tava todo ferrado e ele deu sorte de eu ta por ali e encontrar o esquadrão dele... eu tava procurando os Rangers para uma missão de sociedade mas eu não fazia ideia que iria encontrar ele lá! Quando me falaram eu só sai correndo pra salvar ele - Mas que fim de carreira em, Vicent. Salvo por uma garotinha?

- Uhum - E confirmei com a cabeça. Por um instante fiquei muda, procurando escolher bem o assunto que iria entrar a as palavras que entraria no tal mérito - Eu era da Circulus mas depois que Nicholas e Blake saíram, eu não tinha muito porque ficar - E fui sincera. Teria Seth nessa lista também, mas o rapaz certamente não seria conhecido por Ayzen então não vi motivo para o citar.

Aqui havia um certo embate moral; de fato eu tinha uma proximidade com Tyrant e até Natalie e Karinna, mas o puro contato esporádico era um afeto?! Não sei, eu sinto falta das conversas... dos encontros... até mesmo da vida corrida que a sociedade me fazia ter. Por outro lado, meus maiores contatos estão completamente fora dali; Nicholas e Mathito devem estar por ai, fazendo o que bem entenderem sozinhos:
- ONG é aquele troço que doa, né? - Perguntei, sem me dar conta que ONG era simplesmente uma "organização não governamental" e, no literal, ele não estava errado - Se for isso, acho que não. Ta mais pra um monte de treinador que se junta e mantém contato... é mais lucrativo e egoista que isso - E levei minha mão no queixo. Eu não sabia se devia ter dito isso.

Infelizmente a conversa fora interrompida pelo simples "chegar no hotel". Agradeci o moço, dei o tal voucher do Ticket Especial e adentrei a recepção. Sem falar nada com ninguém, toquei o braço de Ayzen e chamei-o para ir direto ao elevador. Fomos para o quinto andar e entrei num quarto último, ao fundo do andar.
- Quarto... 512 - E conferi; eu sou muito boa em me perder. Abri a porta e revelei um quarto levemente bagunçado, mas não o suficiente para me deixar envergonhada. Talvez eu devesse ter pedido para "arrumarem" mas não cogitei que ficaria tanto tempo fora - Pera eu vou tomar um banho, se quiser tomar também tem um toalha sobrando. Se joga em qualquer quanto ai, tem comida e bebida no frigobar, eu não vou demorar - E joguei minha bolsa em cima da cama de casal que, por algum motivo me deram.

Eu não vi nem como nem onde minha bolsa pousou; apenas dei de ombros, de costas e fui ao banheiro e abri a ducha. Talvez, só talvez, a bolsa ficou semi-aberta e dela uma bolinha de gude misteriosa rolou pela cama. Era a tal da Mysterious Stone que achei e que outrora Nicholas me falou se tratar de uma Mega Stone. O motivo de eu estar narrando isso? Introduzir algum objetivo miraculoso e bizarro para conversarmos.

Perigoso, né?! Nada o impedia de roubar aquela pedra (além do Luch, é claro), talvez tenha sido um desleixo meu deixá-lo no meu quarto sozinho com minhas bolsas e meus pokemons mas... arg, ele não faria isso, né?! Oh deus, eu sou uma menina bem bobinha por acreditar num homem que se mostrou confiável? Sei lá, acredito que não.

Apesar de homens em geral não serem confiáveis independente de tudo.

Bem, estou narrando uma questão que eu nem sequer tinha enquanto tomava meu banho. Eu nem sequer pensei nisso! De baixo da água quente peguei uma esponja grossa e fiz questão de esfregar diversas vezes todas as partes do meu corpo com velocidade. Por quê?! Bem, primeiro que eu estava com certa pressa; não queria deixar o garoto esperando. Segundo que eu me sentia suja pela última experiência; era até simbólico livrar-me daquilo com um banho. Terceiro (e tão influente quanto os outros) eu nem sequer lembrava quando foi meu último banho e aquela cela realmente era suja e bastante... nojenta?! É, acho que é esse o termo.