[ROUTE] - Meeting!

O próprio cheiro daquele lugar me dava ânsia de vomito. As duas avaçaram sobre os bandidos e Tynamo, como imaginado, ajudou. Talvez aquela fosse minha pokemon feminista; daquelas que ama ver um amadurecimento e resistência feminina... não sei ao certo, não conheço muito bem Tynamo, mas certamente sua personalidade se parece bastante peculiar. Apesar do silêncio comum da pokemon, ela era o completo oposto de Claydol quando se encontravam; ora ou outra até atritava com o mineral. Ela não era gélida como meus outros silenciosos; ela só parecia analisar demais antes de agir.

Bem, isso não importava agora. O ponto era que, sem eu nem sequer precisar pedir, Tynamo ajudou. Isso por si só já resolvia o problema; não foi necessário imobilizar os imbecis, meu pokemon fizera isso por si só. As meninas então avançaram, como quem não se importava em interromper, arrombar ou quebrar tudo que tinha pela frente. Deixei que elas fossem na frente e foi só depois que cheguei na tal "sala das ânsias de vomito". Veja só, o cheiro, o som, o próprio ambiente ríspido e escuro me dava nojo. Ouvir aquele homem falando?! Arg, aquilo era o ápice do nojo. O problema central?! Eu não tinha um pokemon para enfrentar um chefão de máfia. Meu pokemon mais forte (muito provavelmente) era Chingling, e ele não estava nem sequer treinado. Eu me contentaria a movimentos simples e repetitivos?! Eu não podia depender disso.

Eu não sei até que ponto posso quebrar essa barreira, mas Ayzen mandara Electabuzz atrás de mim. Fonte?! Vozes da minha cabeça... literalmente. Pois bem, eu rezava para que Hela chegasse a qualquer momento. Eu queria que ela chegasse. Eu sonhava que ela chegasse. Eu fazia de tudo para que ela chegasse! Apenas queria jogá-la sobre aquele demônio em forma de homem e atordoá-lo para todo o sempre.

Nesse instante, sorri. Só cogitando a própria aniquilação daquela máfia, eu já dava um riso irônico. Daqueles risos que saem por puro devaneio e nenhuma base real?! Fora neste momento que eu senti que tinha que agir. Olhei para Tynamo esperançosa, como quem pedia "você pode, por favor, fazer de novo?!". Fora com um pedido não vocalizado que parti até o fundo da sala, tentando buscar as meninas de cabelos exóticos ao fundo da sala.
- Vamos correr para fora daqui!!! - Sinalizei as garotas que estavam... gravando?! Não sei ao certo, apenas apontei para a porta e pedi que fossem embora. Depois virei ao camera-man e gritei - A polícia já está vindo, é melhor que você só deixe a gente ir embora, caso contrário, vai ser pior pra ti - Blefei, numa conversa nada racional.

OFF: desculpa eu to bebada mas na minha cabeça fez sentido isso.

Do nojo ao medo. Eu oscilava o tempo todo e isso já estava passando do limite; não tinha certeza se me seguraria (ou seguraria aquela postura de liderança e confiança) por muito tempo. Respirei fundo, trouxe Chingling para perto de mim e gritei:
- Cala a sua boca, cara - E fora só isso que disse, virei-me para o psíquico, peguei de si o Lucky Egg, guardei na bolsa e deixei-o de mãos vazias - Foda-se meu irmão, eu não to nem ai pra ti não, só fica quieto que a gente vai embora. Ching, usa Yawn nesse filho da puta, Tynamo, Thunder Wave.

Eu já não tava mais nem ai. Revirei os olhos para a fala dele, apontei para o cara e dei de ombros. Chamei as duas meninas que estavam ao fundo do cenário e apontei para irmos embora. Daria um soco naquele cara se eu tivesse distância, tamanho e força para isso; como não o tinha, aceitei o soco em forma de palavras.

Eu sei, eu sei, meu narrador está tentando fazer um encontro dramático entre eu, Hela, Ayzen e sabe-se lá mais quem, mas eu só queria sair dali logo. Eu chamei as meninas uma terceira vez e bradei: "vamos logo, antes que chegue mais alguém!", até porque, já não tinha nada para fazer ali... eu acho. No máximo do máximo, apalpei os vilões que outrora derrubei ao chão com um Thunder Wave, eles podiam ter algum item que me fosse útil, até porque, meu narrador não me faria ser sequestrada sem ter uma recompensa no final... né?! Espero que não.

O calar do chefão final poderia até ser uma surpresa, mas não mais que a resolução repentina. Ok, ok, eu sei que pedi por isso. Eu também sei que o pobre do Rin se sentiu pressionado em alguns momentos por eu simplesmente não querer mais. Eu sei também que quase tudo que narrei foi buscando esse fim mas... ah, mas apesar de todos os apelos, eu esperava que houvesse alguma morte e violência súbita ao pé do corredor final.

Meu primeiro encontro foi Hela. A pokemon veio a mim e deixara de lado toda sua pose meio marrenta. Era a primeira vez que a via a pókemon ser completamente sincera comigo, me dera um abraço forte e a estática até fez com que os pelos da minha barriga arrepiassem! A mocinha não parecia que iria soltar tão cedo e, justamente por isso, não me preocupei em sair daquela posição. Apenas olhei para baixo, encarei sua cabeça amarelada, acariciei-a e dei-lhe um beijo no topo da testa. Repeti o ato de afeto algumas vezes até erguer os olhos e ver Ayzen vindo em minha direção.

Era incrível o ver. Ok, eu imaginava que ele não me largaria por ai... mas que garantia eu tinha?! Sabe, talvez na minha vida enquanto treinadora eu pude confiar em... duas pessoas?! Não sei, talvez nem isso. Eu nunca mais espero que alguém venha atrás de mim; por mais que pareça o óbvio e o sã a se fazer, é raro que alguém de fato venha.

Por alguma ironia do destino, Ayzen veio. Isso era o suficiente para me fazer desabar; não era um desabamento de medo, mas vejam só, eu estava completamente perdida. Afeto, que não venha dos meus pokemons, era novo para mim. Eu conseguia segurar Hela nos braços e dizer-lhe o quanto eu estava bem e o quanto aquilo tudo já passou, até porque, meu caracter maternal com a pokemon (que cuidei desde o ovo) era não só presente como indiscutível.... mas com um outro treinador... ah, ai não.

Ai é outra história.

Eu não tenho alguém em quem eu conte. Eu não tenho alguém para ligar caso eu me sinta em perigo. Eu não sei se sequer tem alguém que se importe com minha integridade física. E não venha me dizer que meus casinhos se importam; todos provaram que não. No fim, fui para até Zapdos sozinha, passei pelos problemas que passei sozinha e não é um dueto com alguém que (re)conheci a meses atrás que mude esse fato.

Não há quem faça o que Ayzen fez por mim. Talvez por isso ver a simples figura do homem me fazia gaguejar. A garganta coçava e do incomodo surgiu a dor e o soluço. Meus olhos começavam a marejar e eu já não via muita coisa. Quando o homem me abraçou, não tive muito como me conter; larguei as mãos de Hela, passei meus braços por trás de suas costas, levei meu ante-braço até próximo de sua escapula e apertei o abraço, o chamando para mais perto.

Deitei a cabeça em seu ombro, suspirei e me dei o luxo de molhar por completo suas mangas com um choro quente e bastante barulhento. Era de cara amassada que eu o forçava a ficar mais alguns cinco segundos ali comigo; eu não estava chorando pela situação, eu estava chorando pelo simples ato de vê-lo... mas eu não vou contar isso para ele, não é?! Era melhor que ele acreditasse (fielmente) que o sequestro fora horrível e meu choro era apenas trauma.

E talvez até fosse, na verdade.

O importante é que mantive-o ali por mais um bom tempo e, quando enfim deixei-o separar um pouco, não ergui a cabeça. Eu simplesmente me recusava a mostrar a cara amaçada, o olho vermelho e o nariz inchado. Eu me negava a mostrar-me tão frágil quanto naquele beco; eu já não tinha mais a desculpa do álcool e muito menos do perigo. Eu estava bem... na verdade, eu estava muito bem. Ouví-lo e vê-lo me fez ficar extremamente bem. Inclusive, eu deveria responder, não é?! Tomei fôlego e me dei liberdade de me agachar. Olhei para Hela nos olhos, evitando por completo o contato visual com Ayzen e disse ao pokemon:
- Obrigada por não desistir de mim - A fala podia ter sido fisicamente direcionada à Electabuzz, mas Ayzen saberia que ele também estava incluso nisso. Apesar disso, acreditei que poderia soar grosseiro, então levei o ante-braço aos olhos, tirei o grosso das lágrimas, subi um pouco o ângulo do meu resto e olhei ao loiro de relance - Obrigada por se preocupar.

Ficara óbvio que meu toque e meu atraso afetaram Ayzen. Seu coração disparava e denunciava o puro e simples afeto. Claro que era de se esperar que algum impacto minha reação causasse, mas por um instante eu esqueci por completo que estava lidando com outro humano que talvez não quisesse revirar alguns sentimentos desnecessários.

Talvez, só talvez, fora isso que causei... sentimentos desnecessários. Justamente por isso solta-lo e me direcionar à Hela pareceu ser uma boa escolha. Abriu margem para mudarmos de assunto e logo ir para o que importava; o caso em si. Apesar da resolução próxima, havia algo que ainda tínhamos que fazer. Respirei fundo, retomei o ar e a noção; voltei à mim e decidi que não havia lá mais tanto tempo para se perder:
- "Bem" é uma palavra muito forte para todo mundo aqui - Apesar de não me incluir no grupo de vítimas (mesmo sendo uma), mantive a afirmação no plural, até porque, é inegável que a situação doentia esbarrou não só na própria filmagem, mas também na experiência de cárcere e perigo. Ao falar que ninguém estava bem ali, eu também englobava Ayzen - Mas vão ficar... vamos ficar - Disse e redisse; como quem queria reatar um nó solto.

Deixei que Ayzen continuasse a conversa, falando sobre polícia e depois sobre Hela. Voltei a acariciar o topo da cabeça da pokemon e abri um sorriso, minha única resposta à pokemon vinha com Chingling ao meu lado. O amorfo balançou-se no ar e tilintou quatro vezes em sinal de felicidade e, após isso, pousou no ombro da elétrica. Logo mais Tynamo veio para mais perto, mas se manteve um pouco deslocado, talvez fora de órbita. Apesar de sua distância, era possível enquadrar os três num só ângulo de visão:
- Eu devo minha vida a vocês três então - Disse, apontando para cada um - Mais uma vez né! - E fora ai que minha mochila emitiu um chiado esquisito, me lembrando por completo que havia um Togepi ali dentro que também me fora bastante útil. Nem que fosse pela pura sorte! Trouxe minha mochila ao peito e abri-la, revelando o pokemon-ovo que chupava um pirulito que mais cedo o dei. Em resposta à Chingling, o Togepi balançou seu Soothe Bell e tilintou o máximo que podia - Ok, eu devo a você também, Toge. Desculpa, desculpa, você foi muito importante mesmo - E balançou novamente o Soothe Bell numa resposta afirmativa.

O tilintar de Togepi ecoou pelo corredor e se confundia com o próprio som emitido por Chingling que agora o fazia sem parar. Rodeei meu pescoço um pouco perdida pelos estímulos sensoriais mistas. O próprio eco me fizera circular a cabeça como reflexo e, quando vi, meu pequeno e doce guiso estava brilhando. Eu sabia o que aquilo queria dizer! O tilintar do sino se tornara mais alto e rítmico, como quem se tornava mais "experiente" ao produzir o som. E realmente se tornava! Logo mais o que antes era amarelada e redonda, se tornava um azul espichado e completamente diferente da formação anterior.

Talvez eu nunca tivesse presenciado uma evolução tão díspar da categoria inicial. Chimecho não só perdeu tamanho, como mudou por completo sua cor, seu timbre, sua aura. Nem mesmo a textura e o brilho de sua pele eram iguais! Olhá-lo completamente diferente me pegou de surpresa, mas logo mais o pokemon veio até a mim e pousou em meu ombro, revelando-se afetuoso a minha figura. Sorri um pouco confusa e balancei a cabeça em tom afirmativo:
- Te ver crescer e passar tanta coisa comigo sem eu nem mesmo ter te dado um nome. Que vergonha... as vezes eu esqueço que você chegou agora pouco no grupo, Ching - Fora só ao passar por isso tudo que eu percebi a necessidade de dar um substantivo próprio a ela - Você vai se chamar Hlín, a deusa da proteção. Acho que é mais que óbvio o porque - Sorri e inclinei a cabeça em direção ao ombro que Hlín estava, tocando minha bochecha na bolinha azulada que dava suporte a sua face.

Hela e Tynamo viram a cenas um pouco alheias; não estavam com sentimento algum de "lateralidade", mas não tinham o que comentar. Tynamo já não fala comumente, em uma situação tão particular, certamente se manteria muda. Hela também não é das mais expressivas, convenhamos; já estava satisfeita com o pouco que demonstrara em excesso por hoje. Togepi por outro lado já estava muito mais ativo, se agitou dentro da bolsa e tilintou seu Soothe Bell, reclamando para si um nome também:
- Ok ok, você vai ser Bragui - Eu não iria explicar porque, mas se ele soubesse quem é Bragui, ficaria óbvio que seria apenas pelo carisma do pokemon.

OFF: Em resumo, evolui Chingling, dei a ela o nome de "Hlín" e ao Togepi "Bragui". Se puder editar na box <3