Aron ouvia atentamente a Fletcher em suas colocações, e percebia a vontade de seu treinador de que aquilo desse certo. Não era para menos, desde que começaram aquilo tudo era visível o fato de que eles se esforçavam muito, em conjunto, para alcançar seus objetivos, que até o momento não fugiam muito da normalidade.
Até o momento.
Quando o pequeno metálico começava a fazer o que Roderick lhe pedia, fechando inicialmente seus olhos, tudo parecia acontecer muito tranquilamente. O treinador fechou também seus olhos, e em um instante ouviram um leve som de uma brisa que passava pela rua.
Um pequeno pássaro cantou, e a sensação de relaxamento que de apoderava de Roderick era inacreditável. Uma nova brisa atingiu seu corpo, e as coisas pareciam não ficar melhores.
A brisa ficou mais forte, e Roderick começou a sentir um vento contrário, como se não estivesse ventando contra seu corpo, mas através dele. Sua camisa começava a ser puxada para trás, e o grito de Aron fez de todo aquele instante muito mais longo do que se imaginava.
Abrindo os olhos ele viu o terror. Uma imensa esfera negra, bem maior que seu corpo, se localizava no muro da casa logo atrás deles. Esticou a mão para pegar seu metálico, mas não houve chance ou tempo suficientes para tal. Aron estava sendo tragado de maneira impetuosa pelo próprio "buraco escuro", e um instante depois Roderick Fletcher sentiu uma força incrivelmente grande se apoderar de seu corpo e começar a arrastá-lo.
Um instante foi o bastante para que Roderick visse a rua pela última vez, como se olhasse pela janela de sua casa. Tudo ficou infinitamente pequeno, e sua visão ficou distorcida. Seu corpo continuava esmagado, como se houvesse um grande peso sobre cada uma de suas células, sobre cada milímetro de seu corpo.
O momento seguinte foi marcado por dois sons distintos, de objetos que caem em uma grande porção de água. Demorou alguns segundos para que o rapaz entendesse, contudo, que um dos objetos era ele mesmo. O outro, era óbvio, era seu próprio Aron.
Quando caiu na água, sua consciência desabou e tornou a si, deixando-o atordoado. Tudo acontecia muito rápido. Voltou à superfície sem grandes problemas, pois parecia que naquele lugar os objetos não tendiam a afundar, mas a flutuar, estando parcialmente submersos. Foi exatamente o que houve com ele: afundou quando caíram, mas em um breve instante percebeu que podiam se manter na superfície sem grandes esforços, ele e Aron.
O pequeno metálico não tardou a descobrir o maravilhoso mundo de se estar na água e não afundar, coisa que para um Aron talvez fosse impensável. Fazia brincadeiras, nadava de um lado para o outro, embora lentamente e no estilo cachorrinho, e às vezes submergia tornando novamente à tona depois de alguns momentos.
Fletcher teve sua atenção chamada, no entanto, ao fato de que onde estavam, aquele lugar, não parecia exatamente uma piscina. Era, sim, uma espécie de quarto de madeira, quase totalmente inundado. Sua cabeça não estava batendo no teto, mas seus pés também não estavam no chão. As paredes estavam a alguns metros de distância, tanto à sua frente quanto às laterais. Ao fundo a mesma distância persistia, o que o fez constatar que estava no Centro do quarto naquele momento.
Nenhuma porta, nenhuma janela era visível naquele momento. Apenas água dentro de um cubo, no qual não estavam submersos. Será que havia algum segredo naquele lugar?