002 - Baterias Recarregadas: Hora do Treino!

Não foi tão difícil encontrar o edifício onde se localizava o Game Corner. Apesar de não ter todo o charme que poderia ter se todo o neon estivesse ligado, a placa gigante e a movimentação de pessoas em seu entorno entregavam sua posição. Antes de entrar, garanti que esconderia muito bem aquela moeda, pois sei o quanto os jogadores frustrados podem ser desesperados por uma delas, achando que a próxima jogada vai lhe garantir a maior sorte do mundo. Resolvida essa situação, finalmente entrei no prédio através da porta automática, quase esbarrando em um veloz senhor de idade, que cambaleava com sua bengala para o lado de fora - Perdão, perdão. Com licença - Disse para o senhor, afastando-me para ele passar e então passando pela porta.

O interior do Game Corner era bem luxuoso, mais charmoso que o exterior. O carpete vermelho com detalhes dourados dava uma certa importância ao local e às pessoas que o frequentavam. As máquinas caça-níquel, altas e robustas, barulhentas e piscantes, tiravam o foco dos jogadores do passar do tempo e da presença de outras pessoas, eram quase como chamados sedutores para os mais viciados. Coloquei a mão nos bolsos e fiz um passeio despretensioso através de idosos e jovens, fingindo escolher uma das máquinas, mas na verdade meu foco era analisar os frequentadores e funcionários. Eu tinha uma boa descrição física de pelo menos um dos criminosos e um cabelo verde não deveria ser tão comum assim... Resolvi então me aproximar do balcão de atendimento para não parecer muito suspeito, mas sem tirar o olho de todos ao redor.

- Olá! Posso saber o preço das moedas e quantas moedas preciso juntar para conseguir os prêmios daqui? - Perguntei para o atendente mais próximo de mim. Notava que a frente dele havia um contador de moedas, que liberava um certo número delas para cada cliente, dependendo dos Pokédólares que tinham a gastar. Estava pensando em comprar algumas poucas moedas e pegar alguma das máquinas para usar aos poucos, assim me disfarçava melhor e ainda assim podia fiscalizar todo mundo. Eu tinha muitas teorias sobre o caso, uma delas era sobre os criminosos serem clientes. Se fosse o caso, muito provavelmente eles teriam cometido algum crime aqui também e roubado moedas, afinal bandidos não iriam perder tempo e dinheiro com moedas a toa...

O atendimento dos dois funcionários no balcão havia sido péssimo. O rapaz já começou dando uma desculpa esfarrapada de que não haviam moedas à venda, além de debochar de mim. Mas como assim um cassino sem moedas? Não haveria como funcionar... Ele disse inclusive que eu deveria tentar a sorte com outros jogadores se quisesse algumas para jogar. Me controlei para não xingá-lo, mas isso só traria uma atenção desnecessária sobre mim e ainda era muito cedo para isso. A moça que atendia não era de falar demais, mas também mantinha a mesma aparência de deboche. O que mais me chamava atenção nela era o pano que cobria todo seu cabelo...

- Ah... Obrigado... Bem, vou tentar minha sorte então por aqui... - Disse com um meio sorriso, encarando a mulher por um tempo. Notei que um pequeno fio verde estava preso na altura de sua cintura e lembrei rapidamente dos cabelos verdes e curtos do tal suspeito de invadir a casa. Será um fio dela que se desprendeu da cabeça ou de algum outro funcionário? Eu precisava avaliar o movimento deles de longe e talvez pensar em uma forma de abordagem melhor. Após responder aos dois funcionários, comecei a caminhar entre as máquinas, sempre mantendo um olho no balcão, mas mostrando-me interessado mesmo em jogar. Procurava alguma moeda perdida pelo chão, embaixo das cadeiras e em busca de alguém que parecesse disposto a perder algumas moedas em troca de algo. Ou pelo menos fingindo que fazia isso...

Depois de vasculhar bastante o lugar sem tirar o olho dos atendentes, finalmente havia achado algo de interessante. Um homem que parecia ter bastante dinheiro e muita sorte também, considerando o tripo 7 que conseguiu nos caça-níquel, e o balde de moedas que obteve. Se eu não quisesse chamar atenção demais como apenas um curioso, deveria seguir a dica debochada do atendente e tentar arranjar moedas com alguém. Talvez esse ricaço aí mesmo... Porém antes de abordá-lo, peguei a Pokébola de Meo-Mey e a deixei sair, abaixando-me e acariciando sua cabeça assim que materializou-se. Tinha uma ideia ousada e que poderia dar muitos resultados diferentes, alguns bem ruins, mas que confirmariam minhas suspeitas ou me colocariam em busca de uma nova pista.

- Mey, preciso da sua ajuda... Ali atrás, no balcão, tem duas pessoas e preciso que vigie eles... Se forem para algum lugar nos fundos, principalmente a mulher, ou se ver algum medalhão com eles, quero que arranque o pano da cabeça dela e volte correndo até mim, ok? - Disse para Mey, tentando explicar o que era um medalhão, mas acreditava que ela não teria problemas em achar, uma vez que ama tudo que seja brilhoso. Assim que a Meowth saiu de perto sorrateiramente, aproximei-me do homem rico tentando parecer desesperado e inocente, juntando as mãos em súplica e fazendo um olhar de muito coitado - Ei moço, por favor! Eu só tenho uma moeda... Pode me dar algumas, você tem tantas! Os atendentes disseram que não estão vendendo mais e preciso muito jogar!

off:

O homem perguntou para que eu gostaria de uma moeda e quando comentei sobre os prêmios do Game Corner ele me informou que não havia nenhum disponível, as moedas eram trocadas apenas por dinheiro novamente. Fiquei pensando se realmente valia a pena ficar mendigando moedas já que não era garantia de que conseguir algumas me daria mais vantagem com os atendentes do lugar, mas o senhor me surpreendeu oferecendo uma moeda sem eu nem mesmo responder. Ergui as sobrancelhas e sorri, esticando a mão para pegar a moeda. Entretanto, ele retornou a moeda para perto de si e disse que me daria com uma condição, acertar uma charada. Minha expressão fechou-se rapidamente, desfazendo o sorriso. - Ok, ok... Qual a charada então? - Suspirei, perguntando em seguida. Ele então fez uma pergunta, sobre qual Pokémon ele estaria falando. Era pequeno, carinhoso e DORMINHOCO, gostava de coisas brilhantes e de perseguir a própria cauda. Para mim, ele só poderia estar falando da Meowth, mas e se fosse outro Pokémon? Não sei se aqui em Hoenn havia algum Pokémon com as mesmas características. Enfim, precisava arriscar... Fiz uma cara de pensativo e depois comentei - Seria... o Meowth?

Após responder a charada, olhei atento para o rosto do homem que parecia inexpressivo. Entretanto, um grande sorriso se abriu e ele explicou que estava pensando em um Skitty, Pokémon felino típico de Hoenn, mas que um Meowth também se encaixaria perfeitamente na charada e que eu merecia essa moeda portanto. - Ah! Obrigado! Eu tenho uma Meowth muito esperta, então só consigo pensar nela quando fala em dorminhoco e que gosta de coisas brilhantes, valeu mesmo! - Agradeci, guardando a moeda no bolso e me afastando do local, apenas para dar de cara com Meo-Mey lutando para pegar alguma coisa escondida entre duas máquinas de caça-níquel. Aproximei-me com cautela e observei, era um brilho característico de moeda, sempre que a luz das máquinas piscava e a iluminava em raios multicoloridos. - Peraí Mey, acho que consigo pegar se eu me esticar bastante e ficar de lado - E foi isso que fiz, colocando meu braço até a altura do ombro e tentando ficar numa posição em que até o meu tórax conseguisse passar.

Enquanto estava com meu braço lá dentro e a cabeça de lado, ouvi vozes vindo do balcão, que ficava no final desse corredor de máquinas. Era a voz da mulher dizendo que iria para o seu horário de almoço. Seria a ocasião perfeita para ir atrás dela e investigar mais, talvez algum esconderijo deles. Apressei-me para retirar a moeda, mas meus dedos apenas roçavam no objeto. - Mey, me escute... Quero que você se esconda e quando aquela moça tentar sair daqui você começa a tentar brincar com ela, suba no colo dela, estique as mãos para ela tentar te segurar, atrase-a de alguma forma e depois se esconde um pouco antes de voltar até mim, tudo bem? - Eu precisaria desse tempo para pegar a moeda ou simplesmente tirar o braço de lá, porque estava um pouco preso. Assim que dei a ordem para Mey, expirei todo o ar dos meus pulmãos para o tórax relaxar e poder entrar mais no espacinho. Sentia meu pescoço até doer, mas finalmente consegui tocar a moeda e puxá-la com a ponta do indicador para mais próximo, finalmente agarrando ela. Bastava saber se Meo-Mey havia conseguido atrasar a menina, então fui cautelosamente até próximo dela, escondendo-me atrás da máquinas como um jogador qualquer e observei o que havia.