I - O Caça-Insetos Kyoya

Silk Road

Era bem evidente que para Olívia não havia "tempo ruim". A garota, constantemente animada, fazia questão de servir de guia para o jovem Kyoya através da selva fechada desta Rota, mas conforme o grupo adentrava mais e mais no bioma, o próprio treinador começava a se questionar se era realmente uma boa ideia. Por isso, sugeriu para a jovem que não era necessário enfurnar-se por cenários tão perigosos, podendo seguir por lados mais calmos, apesar disso significar uma maior dificuldade em encontrar um Nincada, o Pokémon que estavam buscando e que foi o primeiro interesse de captura do jovem.

— Realmente tá ficando difícil passar, mas... Olha ali! — Comentou a jovem, apoiando-se em uma raiz aérea com os braços, além de apoiar o próprio queixo nos braços, para analisar o terreno. Diante da dupla, há alguns metros à frente, a Selva era bruscamente interrompida. Haviam sim árvores ainda de pé, mas bastante espaçadas. Era evidente que umas e outros foram arrancadas, deixando exemplares específicos, agora cobertos por uma rede de pequena trama, provavelmente de um tecido ou até mesmo metal maleável. Essa malha envolvia a árvore que estava carregada de Wurmples em seus troncos e além disso, a própria malha parecia cheia de Seda dos insetos — É assim que eles colhem seda... Os Wurmples a produzem e com o tempo, a seda cai da árvore ou é arrastada pelo vento e fica retida nessas telas. Daí eles só vem e retiram pra fazer fios e vender para fábricas de roupas...

Enquanto Olívia falava, uma voz alta e irritada veio da direção daquelas "Fazendas de Wurmple". Em segundos, o dono se fez presente. Era um homem alto, robusto, vestindo uma avental jeans, tal qual suas calças, mas sem camisa por baixo. Além disso, usava uma bota de cano alto, marrom-escura. Ao seu lado, um homem mais calado e claramente menor, usando um chapéu de fazendeiro, que só concordava em silêncio. Apesar da dupla não estar fazendo nada demais, seria estranho ver dois treinadores á espreita, do mato. Talvez seja por isso que Olívia segurou o braço de Kyoya e fez um sinal de silêncio para ele, abaixando um pouco para ficar mais coberta pelas árvores, galhos e troncos. Se o silêncio fosse mantido, era possível ouvir parte da conversa:

— ...e prejuízo, mas é só tacar fogo aqui e ali que eles fogem. Afinal, não são de periferia de selva e aqui agora vai ser isso... Só tem que ter Wurmple nos arredores... — Esbravejava o maior homem, enquanto os dois continuavam andando e ficavam cada vez mais distantes e fora do campo de visão da dupla. Ainda não havia sido uma frase clara, mas parecia que tinham em mente incendiar algo, mas do que será que estavam realmente falando? E o que Kyoya faria à respeito? ◄

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Kyoya sentia-se incomodado por ter sido ignorado, mas a verdade é que Olívia parecia muito focada e atenta a cada detalhe do trajeto que seguiam. Na verdade, era notável uma mudança de expressão nela, bem abrupta. De uma menina normal, alegre e delicada, a jovem havia passado a um olhar sério e compenetrado, além de caminhar com bem mais sutileza, como se fosse natural para ela espionar ou observar à espreita — Sobre ser exploração ou não, isso é difícil dizer. Acho que vai da opinião pessoal de cada um... Todas, ou quase todas as Wurmples foram capturadas e vivem nessa Fazenda trabalhando, mas... Essas propriedades tem que respeitar o Limite das Florestas, algo que geralmente não acontece... E com essa história de Fogo, eu tenho uma teoria, mas veremos em breve se estou certa... — Disse a garota, cerrando os punhos e claramente expressando descontentamento.

O Treinador então ficava pensativo, questionando sobre investigar a situação. Olívia ouviu o que o garoto dizia e, por sobre o ombro, observou seu movimento — Se for demais para você, Oldale fica muito próximo daqui, você pode ir até lá e seguir sua jornada, mas eu tenho algo a fazer! — Afirmou ela, sacudindo a cabeça positiva e decididamente. Em seguida, a jovem deixou que a capturada Nincada saísse de sua cápsula, ainda levemente enfraquecida, aplicando uma poção sobre seus ferimentos e depois sussurrando alguma coisa em seu ouvido, antes de deixar que o Pokémon fosse por conta própria, por baixo de folhas secas, para o meio da selva, no sentido contrário ao que estavam — Eu vou até o fundo disso... O que me diz? — Comentou Olívia, esperando uma decisão de Kyoya para agir. O que o garoto faria? ◄

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Depois de responder o questionamento de Kyoya com uma outra pergunta, Olívia manteve as mãos atrás de seu corpo, balançando-se lentamente enquanto mantinha um sorriso misterioso em seu rosto. O treinador a respondia "alfinetando-a", mas isso só a fazia dar uma risadinha debochada em resposta, já tratando de seguir adiante pela Selva, evitando a parte mais densa e buscando um caminho mais tranquilo que os permitisse sempre observar o que havia na "Fazenda" sem ter que ficar muito visível para qualquer funcionário — Então, eu enviei o Nincada para dar uma volta por aí, mas tenho que ficar de olho nele... — Começou a explicar...

— Como você pode ver, aqui não é uma Fazenda comum, essa parte fica bem no meio da mata, eles só foram derrubando árvores provavelmente de forma ilegal até chegar aqui e surpreenderam todos os Pokémon que já viviam aqui. Geralmente os Nincada vivem em partes mais centrais da Selva, diferente dos Wurmple que vivem nas árvores mais das bordas. Isso deve ter causado um desequilíbrio, por isso a guerra que vimos mais cedo... — Concluiu Olívia, parando atrás de uma nova árvore de troncos grossos — Então, eu enviei o Nincada para dar uma volta por aí, mas tenho que ficar de olho nele... Tenho certeza que vão tentar atacar ele! Isso vai ser prova mais do que suficiente de que tem algo errado... — Comentou ela, sorrindo maliciosamente, ao ligar seu aparelho PokéNav e colocá-lo no Modo Câmera, apontando em seguida para a direção onde o inseto havia ido.

— Se eu fosse você prepararia sua Taillow para o caso de precisarmos distrair algum funcionário... Se tiverem vários atrás do Nincada, ele pode se ferir antes que eu consiga fazer algo de fato... — Concluiu a garota, retirando a esfera de seu Taillow da bolsa e deixando-o sair, apenas para que lhe fosse aplicado um medicamento a fim de recuperar-lhe parte da saúde e depois deixando-o sobre a própria cabeça, enquanto o Pássaro beliscava os fios de seu cabelo, arrancando um sorrisinho da garota — Enfim... Já que vamos juntos nessa empreitada, o que acha do plano? — Comentou a menina, enquanto digitava uma conversa apressada através do aplicativo de mensagens do PokéNav para um contato que não era possível identificar. O que Kyoya faria? ◄

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Mesmo com toda a situação complicada ocorendo de forma tão rápida diante dos olhos do Treinador, o coração bondoso e amante dos insetos falava mais alto para Kyoya. O jovem então preocupou-se se o Nincada estaria bem e se entendia no que estava se metendo. Olívia por sua vez, ouviu tudo e esboçou um sorriso no rosto, fazendo um sinal de positivo com a mão em resposta à preocupação do rapaz — Tudo certo! Nos conhecemos há pouco tempo, mas... Ele é um ótimo Agente de Campo pelo visto! — Comentou a garota, dando uma risadinha em seguida, tampando a boca com as mãos. Em seguida, ela voltou a analisar o cenário, esperando o momento exato de agir.

Kyoya também não sentia-se muito a vontade de usar a Taillow, questionando se não poderia ser um de seus insetos. Wurmple ou Kricketot. Olívia sorriu brevemente e concordou com um acenar de cabeça, afinal insetos eram a especialidade do menino. Além do mais, o garoto tinha um ponto interessante, afinal se vissem um Wurmple por aí, correriam para colocá-lo de volta ao "cercadinho" — Excelente Kyoya! Você está certo... Podemos até fazer uma encenação... Colocarei minha Taillow para fingir que estou perseguindo seu Wurmple e então pegaremos eles despercebidos! — Disse a garota, empolgadíssima, como se aguardasse algo saltar diante deles a qualquer momento. Mas enfim... Considerando o clima investigativo e a empolgação de Olívia, Kyoya sentiu que havia algo sendo escondido ali. Ainda mais quando a menina começou a digitar secretamente em seu PokéNav.

Olívia certamente imaginava que o garoto acabaria desconfiando de algo, mas ela não esperava a sua reação seguinte, bastante direta, ao comentar que sabia que ela escondia algo. A primeira reação de Olívia foi arregalar os olhos e surpreender-se. A seguinte, foi abrir um sorriso malicioso e deixar uns fios de cabelo tampar o seu rosto — Você é bastante observador... Sim, eu enviei Nincada para servir de Isca e ver o que eles tentariam fazer com ele... E sim, eu conheço bastante daqui porque essa é a minha verdadeira Missão! — Desabafou Olívia, erguendo o rosto e encarando o garoto — Eu comecei minha jornada há pouco, mas... Me tornarei uma Ranger! E essa é a minha Missão de Admissão! — Declarou ela, fazendo um V de Vitória com a mão. — Se você não quiser se envolver eu entendo, mas... Eu agradeceria se me desse essa força! Assim que eu conseguir provas de Crime Ambiental com a câmera, chamarei o reforço e podemos sair. Que tal? — Questionou por fim ela, esperando uma reação do garoto. ◄

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Com a revelação de Olívia sobre sua verdadeira Missão ali, muita coisa certamente passou a fazer sentido para Kyoya, que após a surpresa inicial, sentiu-se aliviado de ter tudo esclarecido, além de comentar com a aspirante à Ranger que ela levava bastante jeito para tal profissão. Olívia reagiu com um sorrisinho, mas depois respirou fundo e focou-se no objetivo da dupla, conferindo se realmeente tudo estava certo. Taillow estava preparado, Nincada estava no ponto ideal e em breve o próprio Kyoya já estaria preparado com um ou mais de seus insetos de prontidão. Além disso, minutos depois, mais funcionários voltavam dos pontos mais distantes dos terrenos daquela "Fazenda de Wurmples".

— Ali, Nincada vai colocar parte da cabeça para fora do arbusto quando eles passarem... Minha câmera está pronta pra quando eles tentarem alguma coisa de ruim contra ele! — Comentou a garota, apontando uma dupla de funcionários que seguravam galões vermelhos, típicos de armazenamento de combustível. Talvez estivessem preparados para tacar fogo em tudo? Enfim... Eles caminhavam um tanto distraídos, conversando entre si, mas Nincada surgia da mata e aos poucos deixava quase todo seu corpo para o lado de fora, ficando bastante visível. Se os dois não o vissem certamente acabariam pisando ou tropeçando no Pokémon. Eles aproximavam-se mais e mais, centímetro a centímetro até que...

— PEGUEI VOCÊS SEUS DOIS INVASORES! — Dizia o homem de antes, aquele de avental jeans e sem camisa, segurando com força o ombro dos dois treinadores. Seu tamanho era colossal de perto, um fazendeiro bastante parrudo e forte, que não teve dificuldade alguma de pegar Olívia e Kyoya pelo braço e os arrastar para fora da mata, próximo dos outros dois funcionários e do Nincada, que no susto escondeu-se de novo num arbusto — Estavam espionando a gente, Chefe! O que a gente faz com esses pestinhas?! — Dizia o grande homem, largando-os no chão finalmente. Todos os Pokémon que o acompanhavam, no susto, apenas seguiram seus treinadores, mas pareciam prontos para agir se recebessem uma ordem. A situação era delicada e qualquer ação poderia ter consequências ruins, tal como a falta de qualquer ação. Diante disso, o que o jovem Kyoya faria? ◄