Em busca de algo pra fazer

É aquela coisa: a vontade de morrer ao ver luz-demais é típica de qualquer aspirante a astigmatismo. Talvez Gabriel precisasse de uma missão no oftalmo, e não na igreja... mas isso fica pra outra intervenção da Winnie. Agora a estrela-guia fora de época apenas assentia com a cabeça e respondia um "ta bom!" bem jeitosinho. Sua voz precedera um evento "mágico", onde toda e qualquer luz fora sugada do ambiente.

Agora Gabriel estava na mesma igreja, porém não tinha como saber disso. Sem luz alguma, ele não enxergava os quadros, os bancos, os chãos ou mesmo a janela que estava de fronte dele. Talvez tateasse o local para descobrir mais sobre, porém as vistas seriam completamente inútil.

Antitético: da igreja extremamente iluminada, para o sacro-espaço sem luz. Da luz intensa que lhe cegava, para o completo escuro. A estrela...? Bem, ela ainda estava no mesmo lugar, e Gabriel só sabia disso porque ela continuava a conversar:
- E agora, como você quer brincar?!

- Aaaah bom! Bem que eu estranhei... desculpa, moço! - Falara, ainda ecoando sua voz na cabeça de Gabriel, mas dessa vez o rapaz certamente achara mais espontâneo, como num diálogo qualquer com sua própria ética.

O pedido de desculpas viera junto com um tilintar de guizos. Alguns míseros milésimos depois, a luz voltara ao normal e o brilho a frente de Gabriel não era mais um brilho... ele até tinha uma aura-brilhante em volta, mas o garoto conseguia ver bem seu contorno. Cabeça de estrela, perninhas curtas e braços mais delongados. Duas pequenas capas amareladas e um sorriso infantil e inocente no rosto. Seus olhos eram marcados por maquiagem azulada e as pontas de suas estrelas tinham fitas amarrada nas pontas. As cores de seu corpo eram de difícil discernimento, já que ao redor de toda a criatura existia uma aura-amarelada que confundia os espectros.

Demorou alguns segundos para a visão de Gabriel chegar num consenso. Sua pupila outrora recolhida, dilatou-se imediatamente e agora retornava ao normal. Via em suas vistas manchas-de-luz, mas que logo voltariam ao normal. A imagem de Jirachi se formava a sua frente e o pokémon-estrela não deixaria seu reconhecimento passar por despercebido. Ele levantara sua mão, mostrara seus três únicos dedos esquerdos e usara a mão direita para apontar um por um:
- Você tinha três desejos... eu tive que gastar um pra apagar a luz - Apontara para o dedo mais à esquerda - E outro para acender a luz de volta... - Apontara para o dedo do meio - E agora, como você quer brincar? - Perguntara, apontando para o dedo mais à direita.

Jirachi conseguira ouvir parte dos pensamentos de Gabriel e arregalou os olhos abismado. Ele ouviu direito?! A ideia soberba de crescer lhe era cabível, mas jogar bosta na cabeça de outrém não era um desejo que ele queria conceder. Ali ele engoliu a seco e perdeu um pouco da 'carinha fofa', mudando para um estado mais preocupado: afinal de contas, estou dando poder para quem merece?! Ao menos seu pedido fora um alívio, mas ainda assombrado pelas possíveis maldades do rapaz, ele disse entre gagueijares:
- T-ta... só temos um pequeno problema - Dissera ele. Talvez fosse a primeira vez que a voz da consciência de Gabriel soasse tão insegura - Pra isso, todos os pokémons teriam que falar... e não são todos os pokémons que falam. Assim como não são todos que enxergam, nem todos que escutam. Se eu fosse realizar o seu desejo, eu teria que mudar todos os pokémons do mundo e eu infelizmente não posso conceder um desejo a todos sem a permissão de todos... eu posso conceder pra ti - Explicou, dessa vez ele tomou o cuidado de não efetuar o desejo sem antes tirar a dúvida, afinal de contas, era o último de Gabriel - Se quiser, eu dou um jeito nesse desejo e adapto ele... mas fica o aviso... eu não sei bem como isso vai funcionar.

Jirachi terminaria com um 'ainda assim, é melhor que jogar coco nos outros", mas deixara isso apenas em sua cabeça.

Nesse aspecto, Jirachi até que parecia bem maduro. Ele não levava a pergunta de Gabriel como uma brincadeira, apesar de sentir que deveria limitar-se a uma figura inocente e fofa. Se assim fizesse, não precisaria explicar porque não quer efetuar alguns tipos de desejo. Apesar do desejo de manter-se límpido, era com certa inteligência que ele respondia, afinal de contas, nenhum lendário tão poderoso (e tão antigo, como um meteoro) seria burro.
- Ok, não vamos incomodar todos os pokémons lhes dando o dom da consciência, né?! - Pedia, quase como um favor - Escolha um, concederei esse desejo... mas por favor, escolha um que não se incomode.

Ao longe, um dos ovos de Gabriel balançava e Jirachi cogitava que aquilo talvez fosse um "sinal", mas lendo-o de relance, sentiu que não era esse o desejo do rapaz a sua frente.

Quando Jirachi viu Kirlia, sua expressão mudou para completa surpresa. Uma psíquica bastante esperta que pousava no cenário com certa gracieosidade... mesmo sem ver. Num instante ea materializara envolta da luz vermelha de sua esfera, em outro pisava no piso-gélido, ficando entre a madeira encerada e a cerâmica fria. A diferença de temperatura a fez extremecer e nesse instante ela se perguntou o que diabos aconteceu.

"Porque não desejar logo visão à ela?" questionou o Jirachi, logo deixando de lado essa opção... se ele não quis assim, deve haver um motivo, oras! Talvez a psíquica não gostaria de ver... talvez ela tivesse medo, talvez... talvez sei lá! Fato era que o Jirachi até cogitou dar essa sugestão, mas já passara tempo de mais por lá:
- Seu desejo é uma ordem - Seu brilho voltou à tona, como no momento em que Gabriel pediu para que ele se apagasse. Dessa vez Jirachi teve o cuidado de afastar-se um pouco para tal ato, se aproximando especificamente de Kirlia.

Jirachi tinha duas opções: fazer Gabriel compreender Kirlia ou fazer Kirlia conseguir falar com Gabriel. No fim escolhera o último; tinha certo medo de expor Kirlia demais ao mundo humano, mas aceitou-a como um pokémon inteligente o suficiente para saber lidar com isso. Um som de guizo fora ouvido e Kirlia sentiu um certo incômodo em sua garganta... tossira um pouco e quando viu o som de sua tosse expelir um ar fônico, logo tratou de arranhar a garganha:
- ... ham ham - Não entendera a princípio que aquele fora o primeiro som semi-humano, advindo de cordas vocais - aaaaaaaaa - testou o primeiro fonêma e o extendeu.

Talvez Kirlia tivesse certo problema com a fonetização do português por um tempo, mas como tinha contato com o idioma por toda a sua vida, não teria lá tanto problema para o aprender... certamente não!
No mais, preciso alertar que o celular de Gabriel vibrara bem alto, escandalizando o toque!