006 - Luchalie de Olho na Toca da Alice

Se no começo tinha que lidar apenas com a falta de reação, Luch havia sido culpado por bagunçar completamente sua energia. Num primeiro momento, ficou apenas em silêncio, mas a mera sugestão de que talvez tivesse entregado uma esfera ocupada por acidente acendeu inúmeras exclamações acima de sua cabeça: E como se não bastasse a ideia, o exaspero do rapaz apenas conseguiu piorar tudo.

— MEU ARCEUS! Não, Luch! — Retrucou. Tinha certeza que não, mas... Sabe como é, nesse tipo de situação, se esquece até o próprio nome, né? Não era novidade, então, que uma dúvida começou a despontar no fundo da mente, e acabou influenciada pela atitude do tutor, abrindo a mochila de imediato pra verificar as esferas bicolores de seus monstrinhos: Em seu curto desespero, Kaleo apenas "saltitou" no ar, abandonando a arena para voltar aos braços do gorducho, que o abraçou e esfregou a bochecha na superfície gelatinosa do animal.

Contou e recontou as pokéballs uma, duas, três vezes, e só quando confirmou que realmente se tratava de uma esfera vazia que se deu ao luxo de dar um suspiro aliviado: E acabou dando um empurrãozinho fraco no braço do rapaz assim que ele se aproximou, o coração agitado pelo receio de há pouco.

— Tá doido, ô criatura? Quer me matar do coração?! — Reclamou, esfregando uma das bochechas com a mão livre. Devagar, um suspiro pesado, e o olhar se desviou ao bebê que parecia contente ao ter novamente o psíquico nos braços. — Mas até isso ele come? Por Arceus, viu... — Comentou, e os ombros se encolheram com suavidade. Se abaixou, então, em frente ao glutão: Não surtou, considerando que ele parecia bem mesmo após devorar um objeto, mas... — Ô, Munch... — Chamou. — Você não pode sair comendo essas coisas não... Tem que pedir, primeiro, pra ver se pode, viu? Pode te fazer mal! — Repreendeu, paciente, e afagou a bochecha do bebê para tentar amenizar o próprio humor que se sacudia dentro de si. Não valia a pena brigar com o pokémon, que era só um filhote e não tinha ainda a consciência do limite, afinal.

O deixou então com Kaleo nos braços - ele não conseguiria comê-lo, pelo menos! -, e se ergueu outra vez. Bem, era bom manter um olho na batalha e outro no pequeno, pelo visto... Não que estivesse o ignorando, longe disso! Aliás, será que ele havia "colocado pra dentro" quando se distraiu com a pobre Lira Voadora?

— Eu já tô vendo que isso vai ser mais complicado que imaginei, só pra começo de história... — Deu um riso, ainda um pouquinho nervoso. Esperava que o monstrinho não passasse mal depois, mas agora já era tarde demais pra tentar corrigir a situação: Ele já tinha comido, né? Deu uma breve olhada na batalha, e só então reparou que seu Elgyem, infelizmente, havia caído no sono. O que já piorava toda a situação pro seu lado, né? — Eu tenho que treinar o Protect com o Vini, depois. A velocidade dele é bem complicada nessas horas... — Comentou, esfregando um dos braços. — Vini! Vê se você sai dessa e usa um Heal Block! — Comandou, na esperança de que o pequenino fosse capaz de despertar daquele sono profundo. — Spoink, continue tentando o Psychic!

E agora era se acalmar do susto, fazer o quê?

Com Kaleo novamente em seus braços, o bebê parecia ter se acalmado um pouco: Certamente não poderia deixá-lo o tempo todo com o pequeno, considerando que tinham que adiantar o treinamento de seus pokémons, mas daí era só pensar em como contornar toda aquela manhosidade. Outra coisa que a fez se distrair do fato de que o animal tinha acabado de devorar uma pokéball foi o próprio Luch ao fim do combate, com mais uma de suas gracinhas em relação à Elgyem, que a ruiva não conseguiu evitar - e nem pretendia - rir. Felizmente, compensando o jeito que ele conseguia fazê-la se desesperar um pouco com possibilidades de perder um pokémon pra fome de Munchlax, Drac era capaz de relaxá-la duas vezes mais. Não sabia se o psíquico tinha ou não ouvido, mas ele não parecia se importar, de qualquer das maneiras...

Enquanto isso, o combate continuava, com novas ordens lançadas rapidamente pelo treinador. Ele parecia pender bastante em permitir que seus pokémons aprendessem os movimentos em batalha: Talvez, considerando a maneira que a batalha se desenvolvia, deveria fazer o mesmo com seu pequenino e oferecer à ele uma chance mais palpável de passar na frente?

— Elgyem, veja só: Vamos com duplo Psychic, dessa vez! Focalize a energia do Psybeam para tentar reproduzir, ok? — Instruiu. Como ele já possuía afinidade com o tipo e experiência em batalha, talvez não tivesse tanta dificuldade em executar, mas aí era esperar para ver. Já com Spoink, o porquinho aparentemente conseguia executar o próprio movimento, mas a falta de efeitos em Lenora a deixava meio incerta se ele tinha ou não dominado... — Spoink, vá mais uma vez com o Psychic! Depois, tente um Reflect! — Concluiu. O olhar se desviou brevemente para Luch com a oferta, mas a moça balançou de leve a cabeça após um pequeno momento de incerteza. — Que tal se a gente colocar mais uma vez a Lira e o Kaleo juntos, e outra rodada da Lenora e do Spoink? Acho que assim o Kaleo e a Lenora podem ficar mais próximos de evoluir, também... — Sugeriu.

Tanto Ivysaur quanto Elgyem pareciam começar bem em suas tentativas de manejar um movimento novo: A parte mais infeliz do fato era o odor que Ume começava a espalhar no processo, um cheiro que, ainda que fraco, começava aos poucos a se tornar pungente. Não pôde deixar de ficar um pouco incomodada, mas em compensação tinha consciência de que era uma situação necessária para que os pokémons tivessem uma vantagem futura em combate: Isso, sem contar que ela própria teria que lidar com seus monstrinhos também treinando esse movimento.

— Vini, vamos insistir no Psychic, tá bem? — Pediu. Sabia que o rapaz ainda não tinha batido de frente com o alien, mas Ume parecia extremamente próxima de dominar sua técnica venenosa e, caso o fizesse antes que arranjasse o mínimo de vantagem (ou pelo menos conseguisse amenizar a diferença clara entre ambos um pouco mais), o embate provavelmente terminaria ali. — Spoink, vá com um Splash e relaxe um pouco; Se concentre e vamos de novo com o Reflect! — Concluiu. O olhar se voltou brevemente ao moreno, e acabou desviando para Lira, um pouco incerta... — Sinceramente, eu não lembro bem... — Admitiu, meio sem graça. — Com o Ariel foi meio, digamos... Inesperado e rápido demais, sabe? — Comentou. A evolução da serpente havia sido tão feroz quanto a própria espécie; Na real, nem bem tivera chances de aproveitar a carpa: Aliás, provavelmente tinha passado mais tempo com Lira do que com a pré-evolução do aquático!