Uma Louca festa do Chá

Madness Infusion

O clima da cidade de Forina já começava a mudar da desordem instaurada para algo mais festivo. A frente fria deu a oportunidade perfeita para Richard e as suas várias equipes controlarem a situação caótica. Até mesmo o ginásio havia parado de atender as lutas por hoje, tanto porque o seu líder estava trabalhando incessantemente para garantir alguma paz reinando sobre o seu território, quanto para todos terem a oportunidade de assistir algumas das peças que seriam apresentadas ao longo do dia.

As ruas estavam decoradas com elementos clássicos da história “Alice no País das Maravilhas”. Os mais característicos eram os naipes dos baralhos, cogumelos fantasiosos, sendo que alguns lembravam Paras, Shroomish, Morelull e suas evoluções, além de lindos arranjos de rosas brancas e vermelhas, fora outras ideias mais originais.

Daqui há uma hora outra peça começaria. Seria a segunda, em ordem cronológica, a ser apresentada no terceiro palco do Teatro Continental. Os protagonistas já estavam conversando durante o percurso até a área reservada para o elenco, quando chegaram foram recebidos pelos produtores e pela diretora, esta reservava algum tempo para conversar com eles.

O corte Chanel da mulher dava a ela um ar mais elegante e sério, suas madeixas negras e onduladas estavam com um aspecto de recém tratadas. Ela vestia uma blusa de manga longa preta com um detalhe peculiar, como se fosse uma tela cheia de respingos de tinta branca, calças de tonalidade escura simples e em seus pés uma sandália plataforma, simples e bonita. Com certeza ela não precisava de muito acessório para se destacar em algum lugar. Em suas mãos estava uma xícara repleta de um líquido verde claro incrivelmente perfumado.

- Como estão, meus lindos? – O tom acolhedor da moça reconfortava a dupla. – Temos um bom tempinho de espera até chegar a nossa vez, então podem usar esse tempo para relaxar. Ali na frente tem uma mesa com café, chá e alguns biscoitos, podem se servir à vontade. – Dito isso, ela tomou um longo gole da bebida, sorrindo com satisfação logo em seguida. – Depois de tomarem alguma coisa, podem seguir o Ramon para irem para os seus lugares, okay? Só não se apressem, deixem isso para o coelho branco. – Piscou após o trocadilho, indo verificar o resto do elenco. O rapaz mencionado pela diretora se tratava do seu auxiliar, ele estava no mesmo lugar, conversando com algumas senhoras.

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Um momento de conversa foi necessário para os protagonistas se entrosarem um pouco mais. Os dois já se conheciam e pareciam ter uma boa relação, mas esse contexto era diferente. Agora eles seriam estrelas de uma peça teatral que havia atraído ainda mais atenção que Sootopolis durante as encenações dos clássicos, era impossível não ter qualquer insegurança, por mínima que fosse.

Assim que o seu nome foi chamado pela menina, o jovem de cabelos marrons interrompeu educadamente a conversa com as senhoras para atender o pedido da moça. Ele trajava roupas simples, adequadas especialmente para o tempo frio que assolava Forina, porém nada pesado para ser confundido com um componente do elenco.  Um sorriso calmo surgiu em seus lábios ao ouvir o que a garota tinha a dizer.

- Imagino que estejam prontos para ir para os seus lugares. Natsumi, estou certo? – Perguntou, como se estivesse levado algum tempo para gravar o seu nome. – Os levarei em breve, certo? Apenas se lembre-se de que você já entrará em cena, ou seja a peça começará quando você estiver devidamente posicionada, quando as cortinas se abrirem é a deixa do seu colega... Gaulvi? – Ramon refrescou a memória da dupla sobre a cena inicial, chamando o treinador pelo apelido. Após checar as horas em seu celular rapidamente, começou a andar em direção ao palco, ainda encoberto pelas cortinas. – Podem ir para os seus lugares.


As cores predominantes no cenário giravam em torno do branco, sendo esse o que mais incidia, cinza, verde e azul. O céu ilustrado na cena estava tomado por nuvens que contrastavam com as delicadas rosas e os cogumelos desproporcionais e brilhantes, todos pálidos. A grama escura e as folhas vivas quebravam um pouco dessa paleta, chamando ainda mais atenção para esses elementos de tonalidades parecidas.

Um dos fungos em especial chamava a atenção de Natsumi, a única que poderia vê-lo por enquanto. Ele era gigante e acomodaria perfeitamente o seu corpo em posição fetal. O lado bom é que ele estava bem perto do chão e a sua superfície tinha um aspecto macio como o de uma almofada.

As luzes ameaçavam a ligar no cenário, mas ainda não era a deixa da jovem de cabelos azuis, pois um Bunnelby estava entretendo o público com rimas sofisticadas e os contando sobre como as “Alices” sempre os deixavam mais atrasado.  O Pokémon estava sendo perfeitamente dublado por alguém que provavelmente seria o narrador da peça.

- Se a eternidade as vezes só dura alguns segundos, essas Alices já me fizeram perder a hora a ponto de se atrasar não ter mais sentido. – O momento reflexivo do Normal Type deixava a plateia pensativa, pronta para a primeira cena da peça. – Espero que essa Alice dure mais do que alguns segundos e menos do que uma eternidade dessa vez. – Ele saltitou para fora do palco, fazendo o cenário de Natsumi girar até ocupar o lugar do anterior.

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A vergonha e a insegurança voltavam a assolar Natsumi nos minutos finais, fazendo com que a menina saísse do palco correndo, antes mesmo que as cortinas abrissem. O semblante da diretora misturava os sentimentos de pena, compreensão e preocupação, ela havia tentado de tudo para confortar a jovem, mas sem obter um resultado muito bom.

O elenco se mobilizava às pressas para suprir a falta da protagonista, procurando a sua substituta pelo camarim, acreditando que esta ainda estava por lá. Para a sorte deles, a garota de cabelos loiros escuros brincava com a sua Buneary por ali, ela seria uma das coadjuvantes da peça, antes do que havia acontecido com a treinadora.

Quando recebeu a notícia, primeiro tentou localizar Natsumi para falar com ela, mas a colega já havia escapado do Teatro Continental, depois aceitou a proposta com um sorriso afetado pela empatia com a outra menina. As roupas que ela usava era de uma paleta que misturava branco e amarelo, não lembravam tanto a Alice original como a da protagonista anterior, porém era caprichada o suficiente para estrear a peça, porém ela estaria privada das lutas, seria uma protegida a partir de agora.

Nos segundos finais, Willow, a pré-adolescente que interpretaria a descendente de Alice, conseguiu entrar em cena e pular sobre o cogumelo. Aquilo acabava passando outra imagem para a plateia, que ao perceber o objeto balançando para cima e para baixo, graças ao impacto, imaginou que a personagem havia caído de um buraco e sido amortecida pelo fungo.

As pessoas reagiram bem aos primeiros momentos da obra, as mais bem-humoradas riam com os trocadilhos do treinador, enquanto o restante apenas observava o cenário, reparava no contraste de cores e em como aquela cena poderia ter um contexto mais obscuro. Os olhos da menina abriam devagar, a clara tonalidade de caramelo das suas íris reforçavam a ideia do conto de fadas.

- Olá? Pode me dizer onde estou? Não me lembro de ter visto nada depois daquela toca... Falando nisso, cadê ela? – O tom confuso, porém cordial da menina mantinham as características da sua personagem. Foi com essa deixa que a lebre que estava segurando minutos atrás apareceu, saltitando com bastante energia. – Aí está você! – A garota saltou do cogumelo e agarrou sua Buneary, a colocando no meio dos seus braços. A coelha ria da travessura cometida. – O meu nome é Alyssa, qual é o seu?