Uma Louca festa do Chá

Madness Infusion

A cena prosseguia com Alyssa ficando ainda mais inquieta, a sua expressão esboçava muito mais do que um olhar pensativo, era como se aquelas questões tivessem feito ela, não só como personagem, refletir profundamente. Quando encontrou algo para dizer, fitou os olhos de Gaulvi, alternando entre ele e as faces desconhecidas da plateia.

- Não procuro por lógica e sim por um sentido. Uma lagarta se transforma em borboleta, tem uma natureza por trás disso. Mas, e esse mundo? Ainda não consigo enxergar nada natural dele, ele não é nem mesmo o completo oposto do meu mundo. – Balbuciou a menina, antes de desaparecer perante a outra porta.

Sozinho e sendo observado pelo público, o Comandante de Prata adentrou a entrada para a segunda dimensão, completando a transição de cena e fazendo o cenário girar. Naquela perspectiva ficava bem claro que a pergunta de Willow fazia sentido, pois tratava-se de uma réplica quase perfeita do ambiente anterior.

Havia uma diferença gritante entre as cenas, todavia. O fundo preto tomava espaço do branco de antes e o piso xadrez invertia as posições dos quadriculados. Repentinamente, Buneary aparecia, saltitando para fora de uma porta branca no centro do palco, depois algo bizarro acontecia. Várias coelhas, idênticas à Normal Type, surgiam, pulando para fora de suas respectivas portas e adentrando as outras, por quais delas o protagonista arriscaria? As mais próximas? Ou as distantes? Quem sabe as de formas esquisitas?

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Distraído com tantos acontecimentos e até mesmo confundido pelas ilusões de ótica, o protagonista acabava se esquecendo de seguir a coelha para uma das portas, o que impedia uma transição de cena ali, então Willow acabava saindo de uma delas para improvisar, já que o seu parceiro de encenação esquecia-se de uma parte de relativa importância no roteiro.

- Não consigo encontrar a Buneary! Ela sempre está pulando para outra porta quando eu vou atrás dela, olha! – A garotinha adentrava uma das entradas a sua frente, fazendo a Normal Type saltar de uma muito distante dela.

Alyssa e Buneary ficavam nessa de entrar e sair de portas alternadas algumas vezes, até a plateia perceber que elas estavam saindo de lugares cada vez mais próximos. Um bom alívio cômico para as crianças, que se divertiam com coisas mais simples e livres de humor complexo. O ápice foi quando ambas se esbarraram ao sair dos seus respectivos portais, o que fez a loira se jogar e agarrar a coelha, de uma vez por todas.

- Finalmente! Agora vamos sair daqui, estou começando a ficar enjoada de ver esse chão. – Willow caminhava em direção à Gaulvi, esperando que ele a levasse para algum lugar.

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- Bem, eu acho que não... – Tentou dizer a loira, surpreendida por um novo acontecimento bizarro.

Após o treinador retirar outra maçaneta dos seus itens e a usar no ar, uma nova mágica aconteceu. Um clarão extremamente forte foi emitido pelos Pokémon que atuavam na produção dos efeitos especiais, a combinação dava tempo para os protagonistas se retirarem de cena e o palco girar, pela primeira vez até então, trazendo ao público novos ares.

O lugar era repleto de espelhos e o piso era de algo semelhante ao mármore, talvez uma imitação bastante econômica. Entretanto, o que realmente intrigava o público era que o Comandante de Prata e Alyssa estavam separados na sala, mas ambos apareciam ao mesmo tempo, com uma “bruxaria” sinistra que também deveria ser obra de algum monstrinho.

A menina de madeixas douradas tinha a sua imagem invertida, como se estivesse andando no teto, mas o mesmo não acontecia com Buneary, que parecia estar de ponta cabeça ou andando a partir das suas orelhas. Como se não bastasse um cenário daquele tipo, um jovem de cabelos castanhos com madeixas tingidas de púrpuro aparecia do nada, quase sendo confundido com uma ilusão. Ele trajava roupas roxas com detalhes pretos, além de orelhas de gato que passavam um aspecto bem realístico. A característica mais marcante do rapaz era o seu inconfundível sorriso, largo e enigmático. Os seus olhos observavam Gaulvi, mas ele permanecia em silêncio. Outra anormalidade que podia ser reparada era o fato da sua imagem não ser refletida nos espelhos.

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O personagem era bastante característico do mundo de Alice no País das Maravilhas, então a plateia, bem como os protagonistas, já tinha uma noção do que ele representava. Entretanto, ele era descrito como um animal em todas as obras até então, pela primeira vez ele se apresentava na forma humana e mesmo assim os seus elementos essenciais permaneciam intactos.

- Hm... Sim. Não. Isso faz alguma diferença? – A voz do ator combinava perfeitamente com o tom místico e distorcido da cena. – Quem é você e para aonde quer ir?

Ele esperava a resposta, parado no mesmo lugar e sorrindo precisamente do mesmo jeito. Alyssa, do outro lado do palco, também conseguia ouvi-lo, parecia ter reconhecido a sua voz. Tentou olha-lo, mas sem obter muito sucesso.

- Hey! Lembra de mim?! Foi você que me jogou no cogumelo! – Ela fazia uma expressão de quem acabava de se recordar de algo que estava esquecido até um gatilho ser disparado.

- Preferia ter caído no chão? Quem é que engatinhou para dentro de uma toca por mera curiosidade? – A resposta do coadjuvante calava a protagonista.

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- Sim e não. – A resposta enigmática de Cheshire foi dada mais uma vez. – Não conheço nenhum de vocês, mas conheço as suas versões anteriores. – O sorriso no rosto do ator ficou levemente maior após a frase, voltando para o normal, antes que o seu rosto começasse a doer.

- Vocês dois não podem ter uma consciência sã! – Reclamou Alyssa, tentando a todo custo voltar atravessar o palco para o lado de Gaulvi.

- Muito menos a senhorita. Caso o contrário, não teria caído aqui. – Riu o jovem, a sua gargalhada ecoava pelo efeito da sonoplastia. – Para aonde estão indo? Farei essa pergunta pela última vez.

- Ninguém entra dentro de toca no meu mundo! Eu só fui atrás da Buneary porque ela estava demorando! – Tentou explicar, vendo a sua coelha transitar entre os lados, invertendo a posição sempre que mudava de lugar. – Ele disse algo sobre um chapeleiro...

O semblante de Cheshire mudou abruptamente ao ouvir a última frase da loira, os seus olhos fitavam o além e o seu sorriso ganhava uma forma ainda mais distante e atípica. Uma aura escura o envolveu e o seu corpo começou a desaparecer aos poucos, provavelmente era trabalho de algum Pokémon fantasma sob comando da produção.

- Festa do Chá, não é? Muito bem... Façam um brinde por mim, quando chegarem lá. – Apenas o rosto do rapaz estava visível, destacando ainda mais o seu sorriso.

Diferente das transições anteriores um Blackout tomou conta do Teatro Continental, o que desesperou boa parte dos expectadores. Porém, toda essa escuridão foi apaziguada por um espetáculo lindo. Enquanto alguns monstrinhos trabalhavam na transição de cenário, as escondidas, outros ficavam encarregados de entreter a plateia.

Da escuridão, vários fantasmas nativos de Unova faziam uma apresentação artística bem em cima da plateia. A grande maioria era formada por Litwick, que controlavam labaredas azuis que orbitavam ao seu redor. Havia alguns Lampent, estes emanavam uma luz mais forte e cercavam o único Chandelure. O fantasma combinava os seus dois elementos para criar uma chuva de brasas roxas, além de coordenar todos os outros Pokémon para desaparecer quando as luzes voltavam ao normal. Gaulvi e Alyssa precisariam entrar em cena, ambos fingindo estar acordando no cenário novo.